Imagine que quer conceber um robot para que atravesse um labirinto por si só. Como o faz? Em primeiro lugar, provavelmente definiria o objetivo: encontrar a saída do labirinto. Em seguida teria de criar um mecanismo para premiar o robot por se mover em direção ao objetivo e para o penalizar quando fosse para mais longe, de modo a que, ao longo do tempo, ele encontrasse a saída. Mas e se o robot se deparasse com um beco mesmo ao lado da saída? Geograficamente é o mais próximo possível do seu objetivo, mas assim não consegue chegar lá. E não vai querer dar a volta, porque isso significaria afastar-se do objetivo e ser penalizado. O seu robot ficaria paralisado.
Kenneth Stanley, professor de inteligência artificial, tem estudado esta questão: pode a perseguição obstinada de um objetivo estabelecido levar à estagnação? O docente chegou entretanto a uma solução para o problema: e se em vez de recompensar o robot por se aproximar da saída do labirinto, o recompensasse por tentar ir em direções novas e interessantes? E descobriu que esta mudança na programação melhorou de forma significativa a capacidade do robot para sair dos labirintos - com sucesso em 39 dos 40 ensaios, face os anteriores 3 em 40. Ao serem concebidos para procurar o que é novidade, os seus robots desenvolveram soluções surpreendentes e criativas para problemas que anteriormente não conseguiam resolver.
No mundo atual focado em dados, as organizações parecem estar mais centradas do que nunca em métricas que monitorizam o progresso na direção desses objetivos: todos querem saber se e o quão rapidamente estamos a mover-nos em direção aos resultados desejados. No entanto, o trabalho de Kenneth Stanley indica que a nossa obsessão pelos objetivos pode estar a fazer mais mal do que bem, levando pessoas, equipas e empresas a estagnarem com o passar do tempo. Visão que é reforçada pelas estatísticas e histórias em torno da invenção. Para citar alguns exemplos: o Viagra foi originalmente desenvolvido para tratar a angina de peito; o LSD foi sintetizado a partir do fungo da cravagem de centeio com o objetivo de desenvolver fármacos direcionados para problemas respiratórios; o YouTube foi concebido como um site de namoro. Os responsáveis por cada um destes projetos - em vez de se concentrarem apenas nos seus objetivos iniciais, e muito provavelmente não os conseguirem alcançar - permitiram-se seguir desvios no processo de criação.
É difícil imaginar uma organização ou um líder aprovarem um projeto sem outra finalidade que não a descoberta de algo novo e interessante. Mas esta é uma mudança mentalidade que todos precisamos de fazer. Quanto mais tempo passamos a definir e a perseguir objetivos específicos menos provável é conseguirmos atingir algo de grandioso.
Adaptado de Harvard Business Review
Sara Oliveira
Consultora-Formadora
EDIT VALUE Capital Humano
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