02 novembro, 2016

Recrutar: uma história para além do currículo?

 
O que é que o recrutador procura conhecer na entrevista de seleção? A resposta a esta questão é tão extensa quanto isto: procura-se conhecer a pessoa como um todo!

Pretende-se conhecer o que a move, o que a levou a concorrer à vaga, o que é que a faz feliz na vida! Deseja-se saber o que lhe faz brilhar os olhos, porque as pessoas serão incrivelmente mais produtivas quando estão a fazer algo em que acreditam, que lhes dá prazer, que lhes dá energia para continuar. Se os olhos dela brilharem, mais facilmente será criativa na função, pensará em novas formas de atuar, irá propor alternativas, desafiar a equipa de trabalho, estará continuamente ativa em fazer melhor! Tenho à minha volta, casos de pessoas que me inspiraram nesse sentido, precisamente porque trabalhavam imenso, horas a fio, numa luta interior constante, que se fazia sentir cá fora, tanto no seu trabalho e como na sua relação com os outros. Certo dia encheram-se de coragem, mudaram de vida, seguiram outro rumo e agora desempenham outra profissão, completamente diferente daquela inicialmente escolhida, mas que as enche de orgulho.

Fazer gestão de recursos humanos é perceber o que as pessoas gostam de fazer, para as colocar no sítio certo, assim que surgir essa oportunidade. É um erro colocar as pessoas numa função apenas porque têm os conhecimentos certos para a desempenhar. Mais importante que isso é realmente o que lhes faz brilhar os olhos!

Outro fator a avaliar é a parte cognitiva, ou seja, como é que o/a candidato/a absorve o novo conhecimento, como é que se adapta a novas situações, como compreende o ambiente que o/a rodeia, como resolve os problemas que surgem. Quando um/a candidato/a iniciar as suas funções, vai necessariamente enfrentar novas equipas, novas rotinas, procurar informação, ter os seus momentos de aprendizagem e aceitar/propor novos métodos de trabalho. Este é o fator que irá influenciar a adaptação à nova função e que irá ao mesmo tempo auxiliar o seu crescimento na carreira. Este ponto é tanto mais importante quanto mais exigente for a função e quanto maior o seu nível de responsabilidade.

No processo de recrutamento e seleção, pretende-se explorar tudo o que a pessoa é para além do seu currículo! Conhecer quais são os valores que guiam os seus comportamentos no seu dia-a-dia, seja na sua vida profissional ou na sua vida pessoal. A forma como as pessoas se comportam traduz os seus princípios, lições de vida e formas de estar. Esta questão é altamente crucial em qualquer empresa, pois traduz-se na cultura da organização. É o que o/a vai aproximar e unir aos seus colegas já imbuídos na cultura organizacional ou pelo contrário, causar a sua marginalização e consequente abandono da empresa por ausência de ajustamento entre os seus valores e os valores da empresa.

Por fim, ambiciona-se saber o que é que o/a candidato/a traz na sua bagagem, ou seja, o seu conhecimento, as suas competências e experiências anteriores. Estes fatores são como um bónus, são pontos adquiridos ao longo da vida e que aumentam a probabilidade da pessoa se encaixar no perfil pretendido.

Todos estes fatores, em conjunto, trazem à sala de entrevista uma pessoa, que vem com uma história de vida para contar e que o recrutador quer conhecer! 


Ana Pereira
HR Generalist IKEA Portugal