17 janeiro, 2015

Licença de Paternidade: Circunstâncias que inibem e Instigadores que possibilitam


A perceção de que os homens sofrem mais pressões do que as mulheres para não gozarem as licenças associadas ao nascimento dos/as seus/suas filhos/as é frequente e vulgarizada. Estas pressões aparecem associadas à ideia de que o papel do pai no cuidado das crianças, aquando do nascimento da criança, é secundarizado em relação ao papel da mãe. A mãe é vista como insubstituível e a presença do pai é entendida como secundária. O pai é visto como tendo um papel de apoio e não enquanto protagonista dos cuidados das crianças.

A opção de não gozarem as licenças encontra-se também na resistência a fazerem interrupções nos seus investimentos na sua vida profissional. A perceção subjetiva que cada um tem sobre a importância das suas funções determina a alocação do tempo a cada uma das esferas de vida. A priorização da profissão constitui-se como obstáculo ao desempenho efetivo da paternidade, limitando a disponibilidade temporal e afetiva para os filhos e filhas.

Para que os homens, cada vez mais, possam acompanhar o quotidiano dos/as filhos/as e o seu crescimento desde os primeiros tempos de vida, são imperativas mudanças no mercado de trabalho. É necessário que as organizações adotem formas de organização do trabalho e de gestão de recursos humanos que tornem possível o envolvimento paterno. Para isso, é fundamental que se reforce a convicção de que não é necessário escolher entre ser-se um pai presente ou um trabalhador empenhado. Conciliar estes dois papéis é possível e traz benefícios para todos.

Por sua vez, as entidades que facilitam esta articulação entre os papéis de pai e de trabalhador contam com colaboradores com níveis de satisfação mais elevados, traduzindo-se em maior compromisso e produtividade. Pelo contrário, quando os colaboradores prescindem de aspetos fundamentais da sua vida privada há custos pessoais e familiares, mas há também custos a médio e a longo prazo para as entidades empregadoras. A ansiedade e a frustração geradas nos colaboradores têm reflexos negativos na sua prestação enquanto profissionais e está muitas vezes associada a ruturas com a organização. Favorecer o envolvimento ativo do pai poderá passar pelo facto de a organização demonstrar claramente que valoriza a paternidade e a conciliação trabalho-família, oferecendo-lhe a segurança de que gozar a licença prevista na lei não terá reflexos negativos na sua vida profissional.

Os vínculos entre pai e criança fortalecem-se, as gratificações emocionais ampliam-se, o pai torna-se mais capaz de responder às necessidades da criança e estas, por sua vez, retiram benefícios importantes desta proximidade com o pai. Por outro lado, a família torna-se um lugar mais justo quando homens e mulheres partilham as preocupações e as ocupações que fazem parte da paternalidade, reduzindo-se a sobrecarga das mulheres e criando-se condições para vivências mais gratificantes da maternidade e para que as mulheres se realizem também em outras esferas da vida. Faz sentido que homens e mulheres partilhem as responsabilidades e as tarefas ligadas à parentalidade e que questionem as crenças enraizadas relativas aos papeis familiares tradicionais que fazem com que as mulheres sintam confirmada a sua feminilidade quando cuidam e os homens a sua masculinidade quando não o fazem.


Sandra Araújo
Administradora
Consultora-Formadora
EDIT VALUE® Formação Empresarial