30 dezembro, 2018

A economia de futuro é a economia circular!

 
Nas últimas décadas temos sido frequentemente confrontados com termos como “as alterações climáticas”, “o buraco de ozono”, “a poluição” e “a extinção animal”. Todavia, e apesar de serem termos com os quais os nossos ouvidos estão já tão familiarizados, poucas são ainda as pessoas que realmente pensam nestas questões como sendo problemas seus e de cada um de nós!
 
Nas escolas, as crianças são sensibilizadas para estes temas e são-lhes ensinadas as regras da reciclagem e da separação de lixo. Muitas acabam por conseguir influenciar e incentivar os pais e avós a colocarem em prática a reciclagem também em suas casas. De igual modo, muitas entidades privadas, como por exemplo a Sociedade Ponto Verde, em colaboração com as entidades públicas, foram ao longo dos anos, melhorando e apostando numa maior informação e sensibilização do público em geral e disponibilizando mais ecopontos, tanto nos centros urbanos como nas regiões mais rurais. Segundo a Sociedade Ponto Verde, em Portugal existem mais de 43 mil ecopontos e 71% dos portugueses fazem diariamente separação de embalagens. Apesar da evolução registada, a Sociedade Ponto Verde reconhece existir ainda um considerável potencial de crescimento ao nível da adoção do hábito de separação em casa e fora de casa. Segundo dados do Eurostat referentes a 2016, Portugal está alinhado com a média europeia na taxa de reciclagem de resíduos de plástico (42%), mas apresenta a pior taxa no papel e cartão (70%) e a terceira pior no vidro (58%).
 
Não obstante, também as empresas são chamadas a contribuir. Mas com tantas obrigações fiscais e legais e com os problemas e dificuldades que necessitam ultrapassar no seu dia-a-dia, qual a importância deste tema para as empresas? Ora, de acordo com a Comissão Europeia, os europeus estão cada vez mais preocupados com lixo plástico: 87% da população está preocupada com o impacto ambiental e 74% está preocupada com o impacto na saúde. Estes dados representam claros sinais para a indústria se adaptar e se reinventar na forma como produz e disponibiliza os seus produtos e serviços. A este respeito existe ainda muito por fazer!
 
De acordo com o Eurobarómetro, apenas 6% do novo material plástico advém da reciclagem e 95% do valor económico potencial das embalagens vai para o lixo. O ato de não reciclar custa à União Europeia 105 mil milhões de euros por ano (o equivalente ao custo de construir 163 pontes Vasco da Gama)! Para impulsionar a utilização de plásticos reciclados, a Comissão Europeia está a lançar um exercício de compromisso para as indústrias da União Europeia e o objetivo passa por garantir que, até 2025, 10 milhões de toneladas de plásticos reciclados sejam introduzidos em novos produtos no mercado europeu. Os sinais são cada vez mais notórios! A título de exemplo, destaca-se a resolução do Conselho de Ministros que proíbe a administração direta e indireta do Estado de usar garrafas, sacos e louça de plástico, pretendendo ainda reduzir em 25%, num ano, o consumo de papel e consumíveis. Também já a partir de 1 de janeiro de 2019, os comerciantes vão deixar de estar obrigados a entregar faturas em papel aos clientes. Com cada vez mais informação disponível, também a decisão de compra por parte do consumidor irá incluir novas variáveis, para além das variáveis preço e qualidade. O material com o qual um produto é feito (reciclado ou não) e a forma como é produzido (sustentável ou não) terão maior peso na escolha e irão, cada vez mais, determinar a efetivação, ou não, da compra.

Adicionalmente é também neste contexto, que se antecipa que as políticas públicas serão também orientadas para a questão do ambiente e das alterações climáticas. Por exemplo, o Plano Nacional de Investimentos 2030, já anunciado, irá assentar em 3 áreas prioritárias: os Transportes e Mobilidade; o Ambiente e Ação Climática; e, a Energia. As verbas europeias irão também incentivar e promover a economia circular.

A economia circular consiste num conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. O Ministério do Ambiente considera que se trata de um modelo que proporciona benefícios de curto prazo e oportunidades estratégicas de longo prazo face a desafios como:
- volatilidade no preço das matérias-primas e limitação dos riscos de fornecimento;
- novas relações com o cliente, programas de retoma, novos modelos de negócio;
- melhorar a competitividade da economia - "first mover advantages";
- contribuir para a conservação do capital natural, redução da emissões e resíduos e combate às alterações climáticas.

Estima-se que as medidas de prevenção dos resíduos, conceção ecológica, reutilização e outras ações "circulares" poderão gerar poupanças líquidas de cerca de 600 mil milhões de euros às empresas da União Europeia (cerca de 8% do total do seu volume de negócios anual), criando 170.000 empregos diretos no setor da gestão de resíduos e, ao mesmo tempo, viabilizando uma redução de 2 a 4% das emissões totais anuais de gases de efeito de estufa. Algumas empresas estão já a aproveitar as oportunidades e os projetos de sucesso, que abrangem desde o mobiliário, passando pela comunicação e marketing e pelo sector financeiro até ao sector da logística e distribuição, podem ser vistos aqui.

O desafio para as empresas consiste em pegar nestes problemas, amplamente identificados, e transformá-los em oportunidades de negócio na economia do futuro: a economia circular!

Bruna Dias
Consultora
EDIT VALUE® Consultoria Empresarial